quinta-feira, 29 de setembro de 2011

John Haines.


"O domínio físico do campo tinha seu equivalente em mim. As trilhas que eu fazia conduziam para fora, aos morros e pântanos, mas levavam para dentro de mim também. E do estudo das coisas no caminho, e de ler e pensar, veio uma espécie de exploração, eu e a terra. Com o tempo, ambos se tornaram um em minha mente. Com a força de acumulação de uma coisa essencial se realizando a partir do chão primeiro, encarei em mim mesmo um anseio apaixonado e tenaz - abandonar para sempre o pensamento e todas as complicações que traz consigo, tudo menos o desejo mais próximo, direto e penetrante. Tomar a trilha e não olhar para trás. A pé, com raquetes de neve ou de trenó, nos morros de verão e suas sombras tardias entregelantes - uma marca alta nas árvores, um rastro na neve mostraria para onde fui. Que o resto da humanidade me encontre, se puder!"

(John Haines).

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vida tranquila ...


“Ele tinha razão ao dizer que a única felicidade certa na vida é viver para os outros...Passei por muita coisa na vida e agora penso que encontrei o que é necessário para a felicidade. Uma vida tranqüila e isolada no campo, com a possibilidade de ser útil à gente para quem é fácil fazer o bem e que não está acostumada que o façam; depois trabalhar em algo que se espera tenha alguma utilidade; depois descanso, natureza, livros, música, amor pelo próximo - essa é a minha idéia de felicidade. E depois, no topo de tudo isso, você como companheira, e filhos talvez - o que mais pode o coração de um homem desejar?”



(Lev Nikoláievich Tolstói).

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Emancipação ...


"Tudo mudara subitamente - o tom, o clima moral; não sabias o que penar; a quem ouvir. Como se em toda a tua vida tivesses sido conduzido pela mão como uma criança pequena e de repente tivesses de ficar por tua própria conta, tinhas de aprender a andar sozinho. Não havia ninguém por perto, nem família nem pessoas cujo julgamento respeitasses. Em tal momento, sentias a necessidade de dedicar-te a algo absoluto - vida, verdade, beleza -, de ser regido por isso, em lugar das regras feitas pelos homens que tinham sido descartadas. Precisavas render-te a um tal objetivo último de modo mais pleno, mais sem reservas do que jamais fizeras nos velhos dias familiares e tranqüilos, na velha vida que estava agora abolida e abandonada para sempre."

BORIS PASTERNAK DOUTOR JIVAGO

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Everett Ruess


“Em relação a quando visitarei a civilização, não será em breve, acho. Não me cansei da natureza; ao contrário, deleito-me cada vez mais com sua beleza e com a vida errante que levo. Prefiro a sela ao bonde, e o céu salpicado de estrelas a um teto, a trilha obscura e difícil, levando ao desconhecido, a qualquer estrada pavimentada, e a paz profunda do campo ao descontentamento gerado pelas cidades. Você me censura por ficar aqui, onde sinto que é o meu lugar e que sou uno com o mundo a minha volta? É verdade que sinto falta de companhia inteligente, mas há tão poucos com quem possa compartilhar as coisas que significam tanto para mim que aprendi a me contar. É suficiente que eu esteja cercado de beleza [...]

Mesmo com base em sua descrição insuficiente, sei que não conseguiria suportar a rotina e o tédio da vida que você é forçado a levar. Não acho que poderei algum dia fixar residência. Já conheci demais as profundezas da vida e preferiria qualquer coisa a um anticlímax.”



ÚLTIMA CARTA RECEBIDA DE EVERETT RUESS, AO SEU IRMÃO WALDO, DATADA DE 11 DE NOVEMBRO DE 1934

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O deserto.


“O deserto é o ambiente de revelação, estranho genética e fisiologicamente, sensorialmente austero, esteticamente abstrato, historicamente hostil. (...) Suas formas são nítidas e sugestivas. A mente é assediada por luz e espaço, a novidade cinestésica da aridez, alta temperatura e vento. O céu do deserto é abarcante, majestoso, terrível. (...) Num céu desobstruído, as nuvens parecem mais imponentes, refletindo às vezes a curvatura da Terra em suas concavidades inferiores. A angulosidade das formas terrestres do deserto empresta uma arquitetura monumental tanto à terra como às nuvens. (...)

Ao deserto vão profetas e eremitas; pelo deserto cruzam peregrinos e exilados. Aqui, os líderes das grandes religiões buscaram os valores terapêuticos e espirituais do retiro, não para fugir da realidade, mas para encontrá-la.”

(Paul Shepard).