segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Caridade!
" Mas conseguir algo para comer era difícil. Fui mandado embora de uma dúzia de casas. Algumas vezes era insultado, diziam que eu estaria melhor atrás das grades. E o pior de tudo é que havia um fundo de verdade naquilo. Por esse motivo, eu partia para o Oeste aquela noite. John Law andava ansiosamente pela cidade querendo botar as mãos nos famintos e sem-teto que incomodavam os habitantes.
Em certas casas, os moradores batiam a porta com força na minha cara, cortando de forma brusca meu humilde pedido por comida. Numa delas, sequer abriram a porta. Fiquei em pé, na varanda, e bati: Eles olharam para mim pela janela. Chegaram até mesmo a levantar um garotinho robusto nos braços, para que lê pudesse ver, sobre os ombros dos pais, o mendigo a quem não daria nada para comer.
Comecei a achar que teria de recorrer aos mais pobres para conseguir alimentos – estes são o último recurso de um vagabundo faminto. O resultado é garantido, sempre pode contar com eles. Nunca mandam embora os que estão passando fome. Por todos os Estados Unidos, várias vezes me recusaram comida em grandes mansões, no topo da colina. Mas um casebre qualquer, à beira de um riacho ou de um pântano (com suas janelas quebradas remendadas com trampos, e uma mãe de rosto cansado, esgotada pelo trabalho), sempre me deram de comer. Oh, vocês que vivem pregando a caridade! Aprendam com os pobres, pois apenas eles são generosos. Não dão as sobras porque não as têm. Nunca regateiam o que possuem. Muitas vezes dão o pouco que podem, mesmo estando, eles próprios, muito necessitados. Jogar um osso ao cachorro não é caridade. Caridade é compartilhar o osso com o cão quando você está com tanta fome quanto ele". (Jack London in "The road").
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